
O Dia Estadual de Luta contra a Impunidade e Violência no Campo e na Cidade começou ontem com uma manifestação pelas ruas de Atalaia. “Os comerciantes e moradores de Atalaia não mais fecham suas portas ao MST, como há quatro anos fizeram. Isso é fruto de um trabalho contínuo de relação com a população e entendimento desta das reais causas da luta pela terra, que também irá beneficiá-los”, afirmou o padre Arnaldo, da paróquia do município, durante a celebração mística na Rodoviária no Centro da cidade.
O ato de fé e justiça contou ainda com a presença de entidades urbanas que sempre apoiaram a luta do MST, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e sindicatos como o dos trabalhadores da educação e o dos jornalistas. Para Lenilda Lima, vice-presidenta da CUT-AL, “os trabalhadores rurais vivem um clima de tensão e apreensão no campo alagoano. Quando muito se prende são os executores dos assassinatos, mas raramente seus mandantes. Não basta ter discurso sobre a segurança, se não houver aplicação prática de políticas que a estabeleçam. Mas as autoridades não agem porque são dependentes e acobertadas pelo latifúndio”.
A representante do Sindicato dos Jornalistas, Elida Miranda, completa: “quando são crimes que atingem as elites de Alagoas, a população é obrigada a assistir verdadeiras novelas na mídia sobre os casos, mas quando é o Francisco, o José, o Jaelson, viram apenas estatística e nada se resolve”. O ato contou ainda com a participação da Igreja Católica e com falas do movimento social, em que se lembrou os momentos de coragem desses companheiros assassinados e a permanência de seu espírito de luta, semeado em cada um e cada uma que hoje continuam na batalha.
As milhares de famílias que marcharam nas ruas da Atalaia rumaram então a Maceió, onde ergueram acampamento na praça dos Martírios (Centro) e participam de uma vigília durante a semana. A violência contra os camponeses não se limita aos assassinatos cruéis de lideranças, mas ainda a falta de políticas públicas que atendam os direitos básicos da população rural. A falta de crédito, de infra-estruturas básicas, de educação, atenção em saúde são exemplos de uma violência estatal que atinge todos os dias o campo alagoano.
Audiência com a Associação dos Municípios Alagoanos
Aproveitando a presença dos agricultores na Capital, uma série de audiências com o Poder Público iniciou nesta segunda-feira (29). A primeira delas foi com a Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), contando com a presença de apenas quatro dos 33 prefeitos convidados. Durante a semana, os trabalhadores ainda pretendem se reunir para encaminhar suas demandas com setores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Instituto de Terras de Alagoas (Iteral), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Eletrobrás/Distribuição Alagoas (antiga Ceal).
Durante a audiência no auditório da AMA, quando o prefeito Palmeri Neto de Cajueiro, representante da entidade, se referiu ao MST como “um Movimento que luta pelo bem-estar das famílias assentadas, mas também pelo bem-estar de toda a população”, foram firmados alguns acordos políticos. O primeiro entendimento entre as partes é que haverá uma colaboração para buscar recursos para resolver as demandas dos Sem Terra nos ministérios, Governos e outras fontes financiadoras. Ainda, tanto prefeitos como camponeses se comprometeram a encaminhar propostas para serem formulados projetos que facilitem a busca destes recursos e agendaram para o dia 21 de fevereiro a continuidade dessa articulação, já com a definição de todos os ministérios e posse dos deputados eleitos.
Marcos Madeira, prefeito de Maragogi, cidade que possui o segundo maior número de assentamentos do país, proporcionalmente, deu seu testemunho: “disseram que eu ia ter muito problema com os Sem Terra, quando assumi. Quando conheci a luta do MST, me aliei a eles. Se não tivesse a terra, quantos não estariam sem emprego?”. Seu filho, Marquinhos Madeira, deputado eleito no último pleito se comprometeu a dedicar o mandato a elaboração de projetos de lei que auxiliem no andamento da Reforma Agrária no Estado.
Fonte: Assessoria de Comunicação do MST/AL
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